Adoção,Mulheres e Educação Por Tatiana Valério.

Adoção,Mulheres e Educação por Tatiana Valério :


A adoção é uma forma autêntica de construção de parentalidade. Eu diria mais, só pela adoção, entendida como acolhimento, aceitação, cuidado e afeto, que as relações filiais e parentais ocorrem. E nesse contexto, as mulheres, de um modo acentuado, sempre estimulam e iniciam os processos demandados – psicológicos, legais e sociais, que culminam na adoção de crianças e adolescentes, criando assim, famílias de verdade. Os homens, comumente, primeiro significam a adoção como uma forma de atestar sua não-virilidade, revelando o peso que a sociedade os impõe. Mas isso vem mudando paulatinamente.

 No Brasil, um trabalho educativo permanente tem sido realizado pelos grupos de apoio à adoção e os frutos estão sendo colhidos hodiernamente. É possível perceber mais homens engajados ao longo da construção e vivência do projeto adotivo. Todavia, sem dúvida, a participação feminina ainda é muito maior, inclusive nos casos de adoção monoparental (quando um adulto adota sozinho). 

 Um movimento feminino é visto não apenas no protagonismo das famílias por adoção, mas também no movimento pró-adoção formado pela sociedade civil que busca orientar, preparar e acompanhar todo o processo de adoção legal que ocorre em território nacional, através de grupos de apoio à adoção (GAAs). A presença feminina nesses espaços reforça o papel multifacetado da mulher na construção da família, em especial da prole, ao longo do tempo. 

 A culpa do nascimento de meninas e não de varões era atribuído à mulher; também quando não engravidada recebia sua condenação. E hoje, mesmo havendo dispositivos legais que acabam por obrigar a participação mais ativa dos homens no processo de habilitação à adoção, é possível testemunhar (através do trabalho dos GAAs) uma presença ativa muito mais feminina nessa dinâmica, inclusive no que se refere à participação nas reuniões obrigatórias ou no contato com membro(a)s dos GAAs. Mas a educação oportuniza grandes mudanças a longo prazo, e hoje o homem tem aprendido com a mulher, que parentalidade diz respeito a laços afetivos e não somente biológicos, e que eles podem se tornar pais pela adoção, com a mesma intensidade e plenitude que qualquer outro relacionamento entre pais e filhos.

Tatiana Valério

Mãe por adoção, militante e pesquisadora da adoção, doutora e mestre em psicologia Cognitiva.

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